Ano de 2112. Cem anos após a fatídica Terceira Guerra Mundial. O calendário Maia estava certo, 2012 seria o ano em que o mundo acabaria… para alguns. A grande causa da guerra, os humanos, eram seres ambiciosos demais, pensava Nikolai. Eles quiseram adiantar a evolução, mas só conseguiram retarda-la, e se transformaram em bárbaros psicopatas e capitalistas, que não agüentavam um único dia sem ver a cor do dinheiro e do sangue alheio. O pior era que Nikolai conhecia, e trabalhava para alguns homens assim na famosa empresa russa Acko, onde era o técnico de computadores. Ele descobriu com cinco meses de antecedência o famoso Plano Apocalipse, criado pela Rússia, e que iria destruir os Estados Unidos em um único e efetivo ataque com uma recém-criada bomba de hidrogênio. Ele tentou sair da empresa, mas seus chefes renegaram o pedido de renúncia, e então ele decidiu fugir do país. Foi para a sua terra natal, a Holanda, onde acabou descobrindo uma jovem de uma beleza mórbida, mas que o seduzia, e então teve um caso com ela. Porém, na manhã seguinte não mais a viu, e como se não bastasse a partir daquele dia começou a ter sensações estranhas. Não agüentava ficar muito tempo ao sol, sua pele empalideceu sua barba não mais crescia. Tentou fazer algumas pesquisas na biblioteca de sua cidade, para entender o que estava acontecendo, mas não obteve nenhuma explicação satisfatória. Porém os sintomas pioravam a cada dia e ele decidiu procurar um velho conhecido em busca de explicações. Esse conhecido era o famoso especialista em ocultismo Matthias Dovenhein. Matthias estudou o caso e prontamente deu o diagnóstico: Nikolai havia se tornado um vampiro. Apesar de cético e nem um pouco supersticioso, o mundo de Nikolai caiu. Tentava se acostumar com a idéia, mas não conseguia. Até o dia em que a terra literalmente parou. 12 de Dezembro de 2012. Os Estados Unidos haviam sido atacados e toda a economia mundial se desestabilizou. Muitos aliados americanos culparam erroneamente o Iraque, e esse foi o próximo alvo. Grupos terroristas muçulmanos se irritaram e buscaram vingar os seus irmãos de fé. A União Européia, com seu caráter diplomático, tentou acalmar os ânimos, mas acabou entrando na guerra, e assim o mundo foi devastado por um incrível efeito dominó que derrubou grandes potências e levou à quase extinção da raça humana. Os únicos sobreviventes serviram de alimento para os vampiros até que morreram de velhice nas mãos dos clãs. O único sangue existente na terra é conservado pelo clã Ventrue, que é o mais rico dos clãs vampíricos, e o vende por preços exorbitantemente altos. Nikolai, cansado de ser comandado, e de certa forma cansado de toda a estupidez capitalista que destruiu o mundo cem anos atrás, se tornou um Anarquista, e agora briga para devolver a ordem que aqueles malditos homens retiraram da Terra.
Nikolai estava carregando sua arma, se preparando para uma missão de invasão juntamente com seus colegas de clã, na qual eles tentariam invadir uma das fábricas Ventrue onde eles guardavam o sangue. Se conseguissem, usariam a velha política de Robin Hood e distribuiriam para os clãs mais pobres. Johann, seu amigo sueco, estava preparando sua arma também.
– Hoje o dia será de fartança – Falou Johann confiante – E aqueles desgraçados do Ventrue terão o que merecem.
– Espero que tenhamos um resultado satisfatório – Respondeu Nikolai, mantendo os pés no chão – O último saque foi em vão, e acabamos voltando para casa com as mãos vazias. Espero que agora consigamos algo decente nessa merda.
Eles acabaram com seus preparativos e sentaram-se do lado de fora da cabana onde estavam, e esperaram o outro parceiro, Cristoph, o alemão mal encarado que adorava arranjar confusão e tinha como hobbie discutir com os outros. Enquanto esperavam Nikolai voltou a conferir os estoques de munições, e aproveitou para prender o longo cabelo cor de piche que batia nos seus ombros. “Incomodam demais na hora da ‘diversão’” pensou ele. Olhou para Johann e apreciou um dos poucos momentos de calma do amigo. Enquanto estava se preparando para as invasões, saques, e tiroteios em geral, Johann era a pessoa mais serena do mundo, enquanto que na ação ele se tornava um verdadeiro demônio. Era conhecido inclusive como Sverige Demonen, o Demônio Sueco. Saiu de seus devaneios e encarou a paisagem sofrível da região. Após a guerra o mundo se resumiu a um grande e entediante deserto. Algumas poucas vegetações e alguns raros animais podiam ser vistos, mas isso era escasso. Na maior parte do tempo só podia se enxergar areia. E por essa areia que, sob a linda e suave luz do luar, Cristoph guiava o seu jipe em direção à cabana. A música que ele ouvia, Bat County do Avenged Sevenfold, podia ser escutada de muito longe, e certamente chegou aos ouvidos de Johann e Nikolai. Quando o jipe estacionou ao lado da cabana Cristoph desceu e cumprimentou os amigos.
– Olá pessoal – Falou o alemão, totalmente animado – Preparados para a festa?
– Estamos preparados para tudo – disse Johann, mantendo o tom divertido de Cristoph – Principalmente se as chances de sucesso são altas.
Nikolai se manteu calado, preferindo não se pronunciar. Ele apoiava o otimismo dos dois, mas ao mesmo tempo se sentia apreensivo quanto ao resultado da missão. Invadir uma fábrica dos Ventrue era uma tarefa difícil. Eles sabiam disso por experiência própria. Já haviam invadido centenas delas, mas do mesmo jeito que conseguiram sucesso em várias tentativas, em tantas outras eles fracassaram. Mas ao menos era bom ter ao lado um alemão confiante e um sueco totalmente insano. Subiram no jipe com Cristoph ao volante, Nikolai no banco do passageiro e Johann em pé no banco traseiro, se aproveitando da falta de teto do veículo. Cristoph ligou a ignição e saiu à toda pelas dunas, guiando rumo ao sul, onde se encontrava o alvo do saque.
Foram necessárias duas horas de viagem para que se pudesse ver de longe a fábrica. Nikolai olhou para o céu e viu a lua cheia e as estrelas iluminando a vastidão do deserto. Se lembrava que antes do Apocalipse não era possível observar as estrelas no céu, afinal o homem tinha criado tantas luzes na terra, talvez na tentativa de criar falsas luzes estelares, que as lindas e verdadeiras estrelas não eram mais vistas com precisão. Talvez esse fosse um ponto alto de toda aquela destruição. A atenção se voltava para as coisas dantes esquecidas, como o prazer do silêncio numa linda e estrelada noite, tudo isso banhado à encantadora luz da lua. Eles desceram do jipe e esperaram uma nuvem cobrir globo lunar, e com um simples gesto de Cristoph, todos sabiam o que deveria ser feito. Correram em direção à fábrica, e quando se aproximaram da entrada, Johann começou a disparar pelo seu rifle AWP, causando um belo estrago na porta da fábrica. Cristoph chegou chutando-a e arrombando-a, o que não era difícil para uma pessoa de 2,05 e com músculos até nas pálpebras. Nikolai se virou para Johann e o observou. O sorriso de psicopata já brilhava em seu rosto, e seus olhos já estavam esbugalhados a procura de sangue. Virou-se novamente para frente e viu os seguranças correrem na direção deles. Segurou firmemente a sua AK 47 enquanto disparava tiros certeiros nos seguranças, que certamente eram alguns carniçais, humanos escravizados por vampiros e que doavam seu sangue para eles, afinal eles morriam com os tiros disparados. Johann não agüentou ficar parado enquanto via sangue humano e vôou pela fábrica para conseguir se alimentar. Cravou as presas no pescoço do sujeito e tomou vários goles, demonstrando um prazer raramente visto, que era o prazer de se tomar o ótimo sangue humano ainda fresco. Quando o ‘vinho’, como era chamado, chegava a eles já estava velho, e não tinha um bom gosto. O sangue humano ‘tirado na hora’ era mais delicioso e suculento, e Johann demonstrava isso com seu sorriso. Já tinha terminado de beber o ‘vinho’ do segurança quando um outro, agora vampiro, o atacou pelas costas com uma adaga. Ele seria decepado, se não fossem os disparos de Nikolai no segurança vampírico que caiu no chão agonizante, enquanto o próprio Johann arrancava sua cabeça e a jogava fora.
– Foi por pouco – falou Johann, enquanto limpava o sangue do vampiro de sua camisa.
– Sim, eu sei. – Resmungou Cristoph olhando nos olhos do sueco. – Agora tente prestar mais atenção ao seu redor.
– Não se preocupe, eu tomarei cuidado.
Johann mal tinha acabado de pronunciar a última palavra e já se virou para os outros seguranças que haviam aparecido e começou a fuzilá-los um a um. Após o tiroteio Nikolai se virou e avistou uma grande porta de ferro. Arremessou uma granada lá e viu o metal voar pelos ares. Correu em direção e achou a tão esperada sala com os armazenamentos e sacos com sangue humano.
– Haha, viu? Foi fácil dessa vez – Falou Cristoph, com um olhar meio zombeteiro para Nikolai. – A fábrica estava quase deserta.
– É. dessa vez vocês tiveram razão – Respondeu o holandês olhando para os companheiros enquanto eles se sorriam e brincavam ao colocar os sacos de sangue em suas mochilas, e aproveitando para refletir: “Como o mundo teria sido mais feliz se as pessoas tivessem parado de se preocupar e de achar que as coisas estúpidas que aconteciam com elas eram os maiores problemas do mundo. Se elas olhassem para o lado bom da vida, certamente todos aqueles malditos humanos estariam ainda vivos aqui, e talvez estivessem sorrindo como esses dois aí na minha frente”